A IMPOSIÇÃO DE MÃOS: uma rápida história e reflexão


Geralmente, quando se fica confinado ao espírito de submissão interpretativa em todas as coisas, corre-se o risco de se pensar que o mundo começa e termina onde estamos, freqüentamos ou pertencemos. Por exemplo, a “imposição de mãos”, acerca da qual os evangelhos sobejam em afirmações, aparece antes que neles, ainda no Velho Testamento, como expectativa relacionada à cura, apenas nas crenças de Naamã, o sírio, o qual esperava que sua cura incluísse um movimento de mãos sobre ele, como veremos adiante. Fora da alusão feita pelo pagão Naamã, ninguém mais menciona o assunto até Jesus aparecer. Portanto, mais uma vez tem-se que admitir que na Bíblia há muitas coisas que já faziam parte de crenças universais, mas que em Jesus ganharam o caráter de realidade instantânea e, portanto, empiricamente verificável de modo súbito. Identificar as origens da imposição de mãos é realizar longa viagem aos tempos imemoriais de indefinível distancia.


A imposição de mãos nasceu nas civilizações antigas, como um ritual das crenças primitivas. A agilidade das mãos sugeria a existência de poderes misteriosos, praticamente comprovados pelas ações cotidianas da fricção que acalmava a dor. As bênçãos paternas foram as primeiras manifestações típicas das imposições de mãos como transmissão do bem. No Antigo Testamento, em II Reis, encontramos a expectativa de Naamã: "...pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor seu Deus, ‘moveria’ a mão sobre o lugar da lepra, e restauraria o leproso". Era, portanto, um homem distante da cultura religiosa de Israel quem associava o mover das mãos, à cura; e somente ele no Antigo Testamento faz tal alusão. Entretanto, na Caldéia e na Índia, os magos e brâmanes, respectivamente, buscavam curar pela aplicação do olhar, estimulando a letargia e o sono. No Egito, no templo da deusa Isis, as multidões ali acorriam, procurando o alívio dos sofrimentos junto aos sacerdotes, que lhes aplicavam a imposição das mãos. Dos egípcios, os gregos buscaram aprender as artes de curar. O historiador Heródoto destaca, em suas obras, os santuários que existiam nessa época para a realização das fricções com as mãos. Em Roma, se cria que a saúde poderia ser recuperada através de imposição de mãos. Hipócrates também falava de uma medicina que relacionava cura à imposição de mãos e aos sonhos. Depreendemos, a partir desses breves registros, que a crença na cura pela imposição de mãos era algo normal desde tempos antigos e que não se limitava à sua prática conforme se lê na Bíblia, especialmente no Novo Testamento.


Então, que diferença há na imposição de mãos praticada nos relatos dos evangelhos e do Novo Testamento, e os relatos de curas realizadas pela mesma prática? O episodio de Marcos seis, no qual aparece a história da admiração de Jesus com a incredulidade dos Seus conterrâneos em relação a Ele; incredulidade essa que fez com que ali em Nazaré Ele não pudesse fazer muitos sinais, exceto realizar alguns milagres pela imposição das mãos, bem ilustra duas realidade: o toque CARREGAVA a cura no caso das sensibilidades humanas estarem diminuida; a realidade da cura divina aumenta quando a alma se mostra aberta. Ou seja: a imposição de mãos, neste caso, aparece como uma espécie de brutalidade e total não-sutileza na pratica da cura, posto que, sem o recurso sensorial do toque das mãos, praticamente nenhum deles se despertaria para a possibilidade de receber o beneficio da restituição da saúde. No caso de Jesus, que curava a distancia, ou meramente com a palavra, embora pudesse também aplicar saliva nos olhos ou na língua dos doentes, ou mesmo fazer aquela ‘massa’ de terra com saliva, que aplicou nos olhos do cego de nascença — a imposição de mãos era quase como que uma total falta de sutileza, mas à qual Ele recorre, apenas porque sem sensorialidade certas mentes não se abrem para a fé que trás cura.


Assim, em minha opinião, há dois tipos de poder na imposição das mãos, e, em Jesus, foi o único momento nesta vida onde ambos se fundiram em plenitude: o natural e o sobrenatural; gerando o naturalsobrenatural.

Ora, do que estou falando? Hoje é mais que sabido que a mente em si mesma carrega poder. E tal poder não é pequeno, e se manifesta para o bem e para o mal. Há inúmeros estudos, desde há mais de quarenta anos, que mostram que o ato de impor as mãos com desejo de cura, deflagra um processo, na maioria das vezes lento, porém benéfico; e isto independentemente de tal imposição de mãos ter sido carrega de fé ou de ser simplesmente uma bondosa esperança em amor. Assim, se determina que pode haver troca natural de energia psíquica entre as pessoas, por várias vias, mas também pela imposição de mãos. Até aqui, entretanto, se está falando de algo natural, ainda que operando de modo psíquico. E afirmo isto também baseado no fato de que a humanidade inteira não creria nos benefícios da imposição de mãos, não tivesse tal beneficio sido verificado durante milênios.

Portanto, afirmo que creio num poder natural de curar, pela imposição de mãos; e, neste caso, o beneficio é fruto do toque carregado de amor e esperança de cura, o que beneficia quem impõe as mãos com amor, pois ama; e beneficia aquele que recebe a imposição das mãos, se a receber de modo grato e esperançoso. Entretanto, percebesse melhora; e tal melhora é sempre processual, quase nunca instantânea. Muitos, entretanto, não crêem que a mente seja mais que o cérebro, e, portanto, todas as manifestações do tipo definido acima, quando acontecem, ou são negadas pelos céticos; ou são afirmadas como “obra do diabo”, isto no caso dos crentes. Em geral crente não crê na mente. Tudo existe entre Deus e o diabo. Nesse caso, a imposição de mãos que aconteça sem a consciência carismática-cristã-pentecostal, e que produza algum resultado de cura, é sempre vista como manifestação do poder dissimulado e bonzinho do diabo através daquele que impôs as mãos. Eu, entretanto, tanto creio no poder da mente, como também no poder de manifestações espirituais. E mais: sei que impor as mãos com amor, sempre é benéfico e ajuda em todo processo de cura. E isto sem que necessariamente o praticante o faça como oração de cura. Também creio que além do poder da mente, há forças espirituais que podem se utilizar de tais manifestações para o bem ou para o mal. Entretanto, eu creio que tais forças espirituais somente se manifestam mediante a barganha que as pessoas façam com tais poderes. No entanto, o que vem de Deus, vem sempre de Graça e sem barganhas. Todavia, para que, por exemplo, uma imposição de mãos carregada de força maligna se faça transmitir para outra pessoa, alguma forma de consentimento tácito já se estabeleceu com aquele poder. Desse modo, há imposição de mãos cujos resultados são de natureza fenomenológica e estudável; bem como há a imposição de mãos cujos resultados são obtidos por intervenção espiritual, podendo ser boa ou má, independentemente do possível fato da cura acontecer. Ora, esse segundo tipo, em geral, não é de resultados processuais e lentos, como acontece com o fenômeno natural, mas sim intervenções que geram a cura súbita. Em Jesus o natural e o sobrenatural operavam em plenitude de poder; daí eu ter dito que Nele, e Nele somente, houve a fusão absoluta de ambas as dimensões, fazendo nascer o naturalsobrenatural. O naturalsobrenatural é a harmonia de todas as coisas. Assim, quando Jesus impunha as mãos, tanto a mais plena força humana e mental de poder se abria em direção ao sujeito-objeto da intervenção, como também Dele vazava o poder divino de curar até o impensável, e instantaneamente. Por esta razão é que conquanto Ele cure com soberania absoluta, todavia, se limita pela incredulidade dos de Nazaré, onde não pode realizar muitos sinais, senão umas poucas curas, realizadas pela brutalidade sensorial da imposição de mãos.


O interessante é que a imposição de mãos, em Jesus, não é algo mágico, mas apenas sensorial, simbólico, e inter-relacional; o que atingia a simplicidade da compreensão humana milenar de que a imposição das mãos poderia curar; e o que gerava SUSTO, é que as curas eram de toda sorte e instantâneas. Além disso, também a imposição de mãos, em Jesus, é a realidade mais básica do ato de curar. Isto porque, de fato, as maiores curas e milagres de Jesus não aconteceram mediante o toque, ou a imposição de mãos. Ao contrário, quando levanta o filho da viúva de Naim dos mortos, Ele apenas toca o caixão e fala ao morto, o qual ergueu-se. Também quando ressuscita Lázaro dentre os mortos, não há qualquer toque, mas apenas um chamado feito pela Sua palavra: Vem para fora! Estou escrevendo isto porque me parece que os discípulos já não impõem as mãos; e, quando o fazem, o fazem mecanicamente.


Meu desejo ao escrever esse rápido texto, é simples. Quero sugerir que levemos a sério o ato de tocar. E mais: quero afirmar que toda imposição de mãos feita em amor, move a vida na direção da saúde, sendo ou não uma oração formal. Além disso, digo também que no impor das mãos com consciência em fé e com amor deliberado e consciente, em tal gesto, há grande meio de Graça humana e divina de cura humana; sendo que tal, gesto praticado em amor humilde, tem em si a carga da graça que habita todo amor genuíno. No entanto, saiba que tudo é Graça, pois, que amor há no homem que não seja dom de Deus? E que cura pode nos alcançar para o bem, e sem barganhas, se não for tão somente Graça? Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm de Deus; descendo do Pai das Luzes, em quem não há mudança ou sombra de variação!

Nele, que é Aquele que cura pela fé que atua pelo amor,

Caio

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